segunda-feira, 4 de maio de 2009

No Princípio Era a Luz



Como Surgiu a Lua

No princípio a Lua vivia na terra e era conhecida pelo nome de Capéi. Era uma moça tão branca que parecia recortada nas águas da cachoeira. Passava os dias no fundo do bosque, acendendo as luzinhas dos vaga-lumes, ou à beira das lagoas espalhando reflexos.

Os homens a chamavam de Capéi e não sabiam muita coisa a seu respeito. Ela, no entanto, exercia influência sobre os reinos da Natureza. Dizia-se que regulava as marés, a germinação das sementes, o brilho de certas pedras de cor, o fluxo das mulheres, o nascimento das crianças e dos bichos. Os índios, para cortar o pau e fazer um arco, para plantar uma roça ou para armar um côvo na beira do rio, costumavam consultá-la. Os médicos-feiticeiros, para propinar uma erva ao doente, ou para predizer as coisas boas ou más que estava, para acontecer, íam interrogá-la no fundo do bosque.

Aquela vida apagada acabou por enfadar Capéi. E isso teve um fim quando ela se indispôs com certo feiticeiro das vizinhanças. Cheia de mágoa, resolveu abandonar a companhia dos homens, seus irmãos por parte de Deus, e subir para o céu, na esperança de uma vida melhor. E se bem pensou melhor fez.

Dali por diante dedicou-se a cortar cipós dos que pendiam das altas árvores. Depois, cochando-os, metendo um bastão de dois em dois palmos, como degraus, fabricou gigantesca escada que parecia não ter fim. Terminada essa obra, foi ao ôco de um pau e chamou a ave que lá passava os dias esperando a noite, para se entregar à caça dos insetos que eram seu alimento. Falou-lhe:

- Comadre Coruja, quer você me fazer um favor?

Capéi pediu-lhe que subisse até a porta do céu e lá ficasse segurando a extremidade da escada. A coruja, muito serviçal, prontificou-se a satisfazer o seu desejo. Assim, Capéi subiu para a vastidão azul, sem descansar nas grandes nuvens brosladas de ouro que encontrou no caminho.

Lá chegando, começou por indicar às filhas, que são as estrelas, seus lugares no firmamento. E desde então permanece lá em cima, a alumiar nas trevas da noite os passos de seus irmãos nos caminhos da terra.

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Afonso Schimidt, baseado em Ciro Dutra Ferreira, Ivo Sanguinetti, J.C. Pixão Côrtes e Luís Carlos Barbosa Lessa, do Centro de Tradições Gaúchas, em Lendas Brasileiras, Livraria Pluma, Porto Alegre.

Ilustrações: José Lanzellotti

Um comentário:

  1. É isso que eu esperava do seu blog... que ele tivesse sua cara!!!
    Parabéns
    abraços

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